Com média de 8,6 prisões por homicídio ao dia, secretário diz que sensação de segurança "está melhorando"
Um ano à frente da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social, Roberto Sá diz que a repressão qualificada tem sido estratégia para reduzir indicadores de violência. O número de prisões é idêntico ao atual de mortes por dia em 2025
Mais de 32 mil pessoas foram presas no Ceará em um ano, entre junho de 2024 e maio de 2025, por todos os tipos de ocorrências criminosas, entre flagrantes e mandados. Foram 1.384 prisões a mais do que no período do ano anterior (4,5%). Somente em maio deste ano, foram 3.038 capturas - 22,1% a mais (2.488) que em maio do ano ado. Nos cinco primeiros meses de 2025, 14.192 presos, 13% acima (12.561) que o mesmo recorte de 2024.
Entre os casos de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs), que designam homicídios, feminicídios, latrocínios (roubos com morte) e lesões seguidas de morte, maio de 2025 teve 267 prisões, também flagradas ou por ordem judicial. A média é de 8,6 pessoas presas diariamente no Estado por terem matado alguém. Foram 182 capturas a mais (46,7%) que em maio de 2024. Se considerar somente Fortaleza, o percentual de maio chega a 131,6% de alta, com 88 presos este ano ante 38 no ano ado.
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O balanço dos atuais indicadores criminais do Ceará, com esses e outros dados, estavam impressos à mão do secretário da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), Roberto Sá, na manhã desta quinta-feira, 5, durante a entrevista concedida ao O POVO em sua sala de reuniões. Na pauta, seu primeiro ano à frente da pasta, recém-completados no último dia 3. Ele folheava, apontava e exaltava as estatísticas.
Havia deixado em destaque as páginas que traziam as prisões de membros de facções criminosas e as dos assassinatos. Foram 721 faccionados presos este ano, 44,8% acima de 2024 (498). E 1.144 prisões de homicidas, 24,9% acima do ano anterior (916). Fez rabiscos de caneta para confirmar números até fora dos impressos. "Fiz uma continha minha de padeiro. Foram 1.444+721, são 1.865 assassinados ou de organizações criminosas presos".

O secretário descreve que os índices obtidos na gestão refletem uma estratégia de "repressão qualificada", como foco na identificação e captura de autores de CVLI e integrantes do crime organizado. Mas também, segundo ele, uma busca por alcançar os mandantes, não apenas executores.
Uma coincidência numérica: a média 8,6 de prisões/dia por homicídio em maio é a mesma média de 8,6 mortes por dia registrada nos cinco primeiros meses de 2025. Balanço atualizado pela SSPDS no fim da tarde de quarta-feira, 4, que apontou uma redução de 17,7% de CVLIs entre janeiro e maio no Ceará.
"Eu não tenho ferramentas para aferir a sensação de segurança das pessoas, mas acredito que ela esteja melhorando", avaliou, reforçando que seria um cenário ainda longe do ideal. "Contudo, ainda acredito que a gente tem que trabalhar muito mais, todos nós, sociedade, governo, para que essa sensação melhore a cada dia".
Quando Sá foi convidado pelo governador Elmano de Freitas para o cargo, no fim de maio de 2024, o Ceará tinha média de dez homicídios por dia. Poucos dias antes, o então secretário, Samuel Elânio, havia declarado que aquele era um número "razoável" para as ocorrências. O constrangimento ao governo, com reações entre parlamentares e junto à população, selou a exoneração. Sá veio de experiências como secretário da área no Rio de Janeiro e no Espírito Santo.
Neste primeiro ano, ele aponta a quase-chacina registrada na areninha do Jardim Violeta, comunidade do bairro Barroso, como o momento mais crítico, que precisou enfrentar desde que tomou posse no cargo. Na noite de 21 de junho de 2024, apenas 18 dias depois de ter assumido, nove crianças e adolescentes e uma mulher foram baleadas por membros de uma facção que rivaliza com criminosos daquela região.
Naquela sexta-feira, os tiros foram disparados a esmo contra quem estava na arquibancada do local. "Foi o dia que me deixou bem impactado com o tamanho do desafio. A gente estava lidando com pessoas que não dão realmente o menor valor à vida, que são capazes de fazer isso". A mulher, Francisca Ivone Vidal do Nascimento, 48, e Daniel Levy Cardoso Gomes, de 10, morreram no local. Algumas dos meninos e meninas, entre 8 e 16 anos de idade, permaneceram vários dias internadas em estado grave.
Para o secretário, a reestruturação das forças de segurança, as metas de redução da violência e o redirecionamento de recursos para áreas e ações consideradas mais críticas foram decisivos para viabilizar a queda nos índices. O Sistema de Metas Integradas de Segurança Pública (MISP), iniciado operacionalmente em março, prevê gratificações até R$ 2 mil por quadrimestre para servidores, quando a diminuição de homicídios atinge 11% no período. No primeiro balanço do MISP, o Estado anunciou o pagamento de R$ 45 milhões aproximados pelo resultado.
Prisões em flagrante ou por mandados no Ceará
Por CVLI
> Em maio
Território | 2024 | 2025 | Variação absoluta | Variação porcentual |
Fortaleza | 38 | 88 | 50 | 131,6% |
Região Metropolitana | 45 | 80 | 35 | 77,8% |
Interior Norte | 51 | 48 | -3 | -5,9% |
Interior Sul | 46 | 50 | 4 | 8,7% |
Fora do Ceará | 2 | 1 | -1 | - |
Ceará | 182 | 267 | 85 | 46,7% |
> De janeiro a maio
Território | 2024 | 2025 | Variação absoluta | Variação porcentual |
Fortaleza | 227 | 330 | 103 | 45,4% |
Região Metropolitana | 270 | 305 | 35 | 13% |
Interior Norte | 220 | 230 | 10 | 4,5% |
Interior Sul | 197 | 273 | 76 | 38,6% |
Fora do Ceará | 2 | 6 | 4 | - |
Ceará | 916 | 1.144 | 228 | 24,9% |
Por integrar facção
> Em maio
Território | 2024 | 2025 | Variação absoluta | Variação porcentual |
Fortaleza | 12 | 56 | 44 | 366,7% |
Região Metropolitana | 34 | 60 | 26 | 76,5% |
Interior Norte | 11 | 34 | 23 | 209,1% |
Interior Sul | 28 | 5 | -23 | -82,1% |
Fora do Ceará | 1 | 0 | -1 | - |
Ceará | 86 | 155 | 69 | 80,2% |
> De janeiro a maio
Território | 2024 | 2025 | Variação absoluta | Variação porcentual |
Fortaleza | 105 | 226 | 121 | 115,2% |
Região Metropolitana | 212 | 277 | 65 | 30,7% |
Interior Norte | 113 | 137 | 24 | 21,2% |
Interior Sul | 67 | 81 | 14 | 20,9% |
Fora do Ceará | 1 | 0 | -1 | -100% |
Ceará | 498 | 721 | 223 | 44,8% |
Fonte: SSPDS
Sá estava no Rio durante fuga de criminosos cearenses: "Foi o possível"
Apesar do pedido formalizado, a entrevista com Roberto Sá não pôde ser concedida na própria data de aniversário de sua gestão na SSPDS. Sá esteve de agenda cheia nos últimos dias. Ele confirmou que esteve no Rio de Janeiro no último fim de semana, para acompanhar o andamento da operação policial realizada na comunidade da Rocinha, que tentou prender criminosos do Ceará refugiados no território fluminense.
Até então, o secretário não havia mencionado o fato. A ação foi executada pela Polícia Civil e Ministério Público do Rio de Janeiro, mas partiu de investigações conduzidas pelos órgãos investigativos do Ceará, com ordens de prisão e busca e apreensão do judiciário cearense. Os alvos foram líderes da facção Comando Vermelho. Havia pouco menos de 30 mandados de prisão em aberto, mas apenas uma pessoa foi presa.
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Segundo ele, aquele resultado no Rio foi o possível. "A gente criou a expectativa de conseguir (mais prisões), porém, já sabia que seria muito difícil conseguir alcançá-los todos. É uma região topográfica difícil, ela tá margeada por milhares de quilômetros de Mata Atlântica. Então, operar naquela região é sempre muito complicado. Mas fomos com a expectativa sim de conseguir alcançar o maior número de criminosos possíveis", afirmou.

O secretário itiu que o número de mil mortes que teriam sido ordenadas pelos criminosos cearenses instalados no Rio, em dois anos, "é um número muito próximo da realidade". O dado foi apontado pelo Ministério Público fluminense, mas Roberto Sá confirma que "é semelhante" à análise feita pelos setores de inteligência e pela Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp) do Ceará. "Se houver mais crimes por ordem deles, eles serão de novo indiciados. Torcer para que eles sejam denunciados e condenados".
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Numa filmagem divulgada após a operação, feita por drone, é vista a fuga em bando de vários criminosos, portando mochilas, armamentos e roupas camufladas. O MP do Rio chegou a apontar que teriam sido mais de 400 homens atravessando a mata. Sem os alvos alcançados, foram executados mandados de busca e apreensão. Os agentes de segurança recolheram quatro fuzis, um revólver, duas pistolas, celulares, rádios transmissores e 204 kg de drogas, entre maconha e cocaína.
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