3ª onça é encontrada morta, vítima de atropelamento, em Morrinhos, no Ceará

3ª onça é encontrada morta, vítima de atropelamento, em Morrinhos, no Ceará

Em menos de um mês, três casos de atropelamentos foram registrados. Situação preocupa moradores e especialistas da área

Uma onça foi encontrada morta, vítima de atropelamento na estrada que liga o Triângulo do Marco e Morrinhos, no Ceará. O caso aconteceu no último sábado, 31, e preocupa moradores e autoridades ambientais.

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O acidente, o terceiro em menos de um mês, estaria relacionado a atividades de uma pedreira de mineração, que opera na Serra do Mucuripe, onde os animais silvestres vivem.

A área do triângulo é formada por Marco, Bela Cruz e Morrinhos, a cerca de 223,75 km de Fortaleza.

De acordo com especialistas e a própria Prefeitura, por conta das explosões, os animais acabam ficando sem ambiente adequado para viver e são obrigados a se aproximar de habitações e da rodovia.

Um gato-do-mato (Leopardus tigrinus) teria sido encontrado morto, em Bom Princípio, na CE 178. O segundo caso relatado seria de uma onça encontrada morta na região de Cajuboi, na CE 402.

Ofício solicita suspensão de atividades de pedreira; Semace vai realizar vistoria técnica

A Câmara Municipal de Morrinhos e o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (COMDEMA), solicitaram por meio de ofício, a suspensão imediata das atividades de exploração na porção da Serra do Mucuripe, no município. A medida é justificada por graves impactos ambientais já observados na região.

O documento cita a morte de uma onça-parda (Puma Concolor) no último dia 15 de maio. “O fato evidencia o deslocamento forçado da fauna silvestre, em decorrência da perda de habitat natural”, destaca o ofício.

Outra onça-parda com filhotes e macacos também foram avistados próximo às residências circunvizinhas, atrás de refúgio e alimentos.

“Fora outros animais que só se via no topo da serra, hoje, aparecem com frequência nestas comunidades”, aponta o arquivo.

Uma das deliberações do documento é que o município “suspenda a anuência ambiental para projetos que envolvam supressão vegetal, exploração mineral ou qualquer outra atividade que comprometa a integridade ecológica da área”.

O ofício também pede que a suspensão das atividades permaneça vigente até a realização de estudos técnicos aprofundados sobre os impactos ambientais e a viabilidade de atividades na região.

O POVO procurou a Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará (Semace) para saber mais detalhes sobre os atropelamentos envolvendo os felinos silvestres em maio último.

Por meio da Diretoria de Fiscalização (Difis), o órgão informa que, até o momento, não possui registros sistematizados sobre atropelamentos de fauna silvestre em nenhuma região do Ceará, incluindo o município de Morrinhos.

“Esse tipo de ocorrência, por suas características, frequentemente não é formalmente comunicado aos órgãos ambientais, dificultando o monitoramento e a consolidação de dados específicos”.

A Difis também esclarece que não realiza acompanhamento contínuo de casos de atropelamento de animais silvestres. Contudo, a autarquia afirma que atua de forma integrada com outras instituições sempre que recebe denúncias formais envolvendo possíveis impactos ambientais decorrentes de atividades humanas, especialmente em áreas sensíveis ou protegidas.

Em relação ao funcionamento da pedreira e sua possível relação com ocorrências ambientais, a Difis confirma que há três denúncias registradas em seu sistema, referentes à referida localidade.

Uma vistoria técnica está programada para ocorrer nos próximos dias. O objetivo é verificar in loco a procedência das denúncias.

“Caso sejam constatadas irregularidades, serão adotadas todas as medidas istrativas e legais cabíveis, conforme prevê a legislação ambiental vigente”, finaliza a pasta em nota.

Atividades de mineração estariam causando evasão de animais silvestres da Serra

O analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e chefe do Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetas), Alberto Klefasz, explicou ao O POVO o que poderia estar causando tantos acidentes com animais silvestres na região.

“[A situação] poderia estar sendo causada por um processo de degradação do ambiente. Eles [empresas] vão derrubando as matas e com isso onças e gato-do-mato — considerados predadores — am a ter menos recursos para explorar”, explica.

Por conta da degradação, os animais são forçados a procurar lugares onde teriam menos possibilidade de abrigo e alimentação, assim, ficando expostos. Além de facilitar a ocorrência de atropelamentos, a situação estaria causando conflitos com animais de criação.

“Por conta do desmatamento e queimadas, tudo isso afasta esses animais dos locais que eles utilizam como abrigo, obrigando a aproximação em habitações e rodovias, onde eles são expostos a atropelamentos”, explica.

Os felinos, de acordo com Alberto, se adaptam muito facilmente em vários tipos de ambiente e hoje existem em grande parte do Estado. “Onde ainda existe algum tipo de vegetação. Eles conseguem sobreviver inclusive até próximo a áreas metropolitanas, inclusive de Fortaleza”.

Alberto conta que além dos atropelamentos, há relatos do aparecimento desses animais em regiões habitadas e caindo em cisternas.

O que fazer ao avistar um animal silvestre?

Em casos de avistamento de animais silvestres, a população é orientada a notificar os órgãos competentes São órgãos competentes o Ibama, Batalhão de Polícia do Meio Ambiente da Polícia Militar do Estado do Ceará (BPMA), Secretaria do Meio Ambiente (SEMA) e a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (SEMACE).
com o máximo de informações possíveis: “Tirar foto e, se possível, que tenha uma coordenada geográfica”.

Alberto também orienta que é preciso autorização para manejar um animal silvestre, estando vivo ou morto. “Inclusive porque a pessoa fica exposta a várias doenças tendo contato com aquilo [animal]. Além de não ser permitido”, conclui.

O Centro de Triagem de Animais Silvestres (Ceta), do Ibama, recebe animais silvestres por entrega voluntária, resgate ou oriundos de apreensão de fiscalização.

O Centro também oferece recuperação e destina esses animais por meio de soltura ou encaminhamento para empreendimentos de fauna devidamente autorizados. Atualmente, o equipamento não possui dados específicos sobre casos de atropelamento envolvendo animais silvestres.

O POVO entrou em contato com a pedreira Mineração Agreste para saber o posicionamento da empresa em relação aos acontecidos.

Em nota, a pedreira informou que os casos não têm relação, porque a empresa, em sua produção de rochas ornamentais, utiliza o fio diamantado como técnica de corte. “Uma inovação que define a qualidade e a integridade dos blocos extraídos, e o impacto ambiental gerado, não se fazendo mais necessário o uso recorrente do processo de explosão.”

“A empresa mantém, em constante atualização, as licenças ambientais e operacionais solicitadas para a apropriada execução de suas atividades, pautada em estudos feitos em suas áreas de atuação, considerando o bem-estar e a preservação do bioma e da comunidade lá inseridos”, finaliza a nota.

Confira registros do momento:

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