Canhão e outros vestígios arqueológicos são encontrados na Estação das Artes 5e4j2w
Vestígios foram achados durante obras de restauro do equipamento; maioria está relacionada ao princípio do século XIX, período coincidente com a expansão do comércio entre a Europa e a América
Um canhão e outros vestígios arqueológicos relacionados aos séculos XVIII a XX foram encontrados durante as obras de restauro da Estação Ferroviária João Felipe, no Centro de Fortaleza. Além do canhão, foram encontrados fragmentos de garrafa de grés e de vidro, cerâmica e fragmentos de faianças de procedência inglesa. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional informou que, por causa do achado, a obra que faz parte do projeto Estação das Artes foi paralisada para que se procedesse às atividades de escavação arqueológica, conforme exigências da Lei 3924/1961.
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A maioria dos vestígios está relacionada ao princípio do século XIX, período coincidente com a expansão do comércio entre a Europa e a América. Na década de 1970 foram desenterrados outros três canhões dos séculos XVII e XVIII. Atualmente, as artilharias estão depositadas na Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. O Instituto informou que o objeto está sob a guarda provisória da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult). "O Instituto solicitou à Secult um projeto de musealização de uma amostra didática dos vestígios recuperados, ainda não recebido por este Instituto”, informou o Iphan.
Para o Iphan, a continuidade das escavações arqueológicas poderá revelar aspectos importantes relacionados ao cotidiano, à transformação urbana, ao comércio e ao sistema de defesa da cidade de Fortaleza nos séculos XVIII a XX. No entanto, as atividades de pesquisa, que são de responsabilidade da Superintendência de Obras Públicas (SOP), estão paralisadas.
Contexto histórico da Estação Ferroviária João Felipe 2u185w
A Estação Ferroviária João Felipe é um sítio arqueológico protegido pela Lei e registrado no Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão (SICG) do Iphan. O prédio foi construído no século XIX, nas proximidades do antigo cemitério São Casimiro. No entorno da Estação existiu um campo de Pólvora, em terreno atualmente associado ao eio Público.
Sebastião Ponte, historiador e especialista na história de Fortaleza, conta que a Estação foi inaugurada em 1880, mas a Estrada de Ferro Baturité já existia há sete anos, pois foi criada em 1873. “A urgência em instalar uma ferrovia no Ceará foi decorrente da grande exportação do algodão cearense para a Europa na década de 1860”, argumenta.
Para o transporte das cargas não havia a necessidade de uma estação. Com o decorrer do tempo, o trem ou a trazer também fazendeiros, comerciantes, políticos e gente que vinha morar ou visitar a Cidade, por isso a estação foi criada. “Os ageiros precisavam de uma estação para embarcar e desembarcar. Fizeram uma estação belíssima. Ainda bem que é tombada como patrimônio estadual e federal, e agora, felizmente restaurada e transformada em um equipamento cultural.”
Para o professor de História, o entorno da estação é de grande importância para Fortaleza. “Ali foi construído o primeiro cemitério da capital, o São Casimiro, em 1848. Antes os sepultamentos davam-se em igrejas.” O São Casimiro foi demolido para dar lugar às oficinas da Estrada de Ferro Baturité.
“Poucos anos depois, em 1880, o logradouro cresce em beleza e relevância com a edificação da Estação João Felipe. Por fim, em 1884, a praça foi escolhida como palco para a reunião de uma multidão de fortalezenses para festejar a decretação oficial da abolição da escravidão no Ceará, a primeira província brasileira a fazê-la e com quatro anos de antecedência à abolição nacional”, acrescenta ela.
Transporte ferroviário 1zd3g
Ao O POVO, a Secult informou que, originalmente, o transporte ferroviário atendia ageiros entre Fortaleza e Baturité, ando por sucessivas expansões à medida que a Capital cearense se desenvolvia, até integrar o sistema de ferrovias da Rede de Viação Cearense (RVC), em 1909.
A partir de 1957, a Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) assume a istração da Estação João Felipe. Em 1988, o transporte de ageiros na Estação João Felipe a ser istrado pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).
O engenheiro e memorialista Hamilton Pereira relembra a movimentação intensa dos trens que chegavam e partiam da estação: “Tínhamos trens de ageiros como os famosos ‘Sonho Azul’ e o ‘Asa Branca’, que seguiam de Fortaleza pela linha Norte, ando por Sobral, até Altos e Teresina, no Piauí, ou pela linha Sul, ando pelo Crato, até Sousa, na Paraíba. Os vagões eram bem confortáveis, climatizados já, e com poltronas reclináveis. Geralmente a locomotiva puxava cinco vagões – dois de primeira classe e dois de segunda, com um vagão-restaurante no meio”.
Além de setor istrativo, galpões e oficinas para manutenção das locomotivas, a estação contava com sala de recepção, restaurante e plataformas de embarque/desembarque para atender os fortalezenses. Uma edificação que simboliza o progresso de Fortaleza ao longo dos séculos, através de seus arcos, colunas e paredes ornamentadas, e do frontão triangular marcado pelo relógio em algarismos romanos que, por gerações, informou as horas aos transeuntes da praça Castro Carreira (Praça da Estação).
Dormentes também foram encontrados 6f633v
Além dos objetos citados, foram encontrados também dormentes, que são elementos instalados nas vias metro-ferroviárias para ar as cargas dos trens transmitidas pelos trilhos.
Segundo a Secult, as estruturas compostas pelos dormentes serão preservadas no local, com a possibilidade de socialização dos achados. “Há várias opções a serem avaliadas, dentre elas a sua manutenção no local onde foram encontradas com a instalação de janelas de vidro para visitação”, informolu a Secult, em nota.
Projeto Estação das Artes 3q213i
O projeto Estação das Artes consiste na restauração estrutural e modernização do conjunto de prédios e galpões localizados em frente à praça Castro Carreira (Praça da Estação), que pertenciam à antiga Estação Ferroviária João Felipe.
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