Glauber Braga acredita que Motta é contra a sua cassação
Para o deputado, a esquerda não pode "abaixar bandeiras", mas precisa apresentar pautas "de maneira direta e incisiva"
O deputado federal Glauber Braga (Psol) visitou Fortaleza para ato em defesa do seu mandato, que pode ser cassado. O evento ocorreu na Praça de Gentilândia nesta sexta-feira, 30, com a presença de parlamentares do Psol e também do PT.
O parlamentar relatou ter tido conversa com o atual presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), por apenas 30 segundos, mas afirmou ter a percepção de que ele não quer a cassação do mandato, para evitar ficar com a imagem "marcada" pelo episódio.
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"A minha impressão é que ele não quer a cassação. Porque fica muito ruim ele ficar com a marca como presidente da Câmara de quem operou ou, pelo menos, presidiu uma sessão de cassação de mandato popular que fica cada vez mais flagrante que se trata de uma perseguição política evidente", afirmou.
Em visita ao O POVO, Glauber comparou o seu caso com o de outros deputados federais como Chiquinho Brazão (União-RJ), Gilvan da Federal (PL-ES) e Alexandre Ramagem (PL-RJ), citando haver desproporcionalidade.
"É justo um deputado que foi acusado de ser o mandante do assassinato de Marielle ter os seus direitos políticos preservados com a cassação dele não sendo levada ao plenário? Que o Gilvan da Federal que é reincidente em violência política de gênero ter a suspensão diminuída? Ramagem grampeou meio mundo e teve aprovação de anistia aprovada. Há alguma proporcionalidade em relação a algum desses casos em relação ao meu caso? Na minha avaliação não tem proporcionalidade nenhuma", disse.
O deputado está ameaçado de perder o mandato após empurrar e colocar para fora da Câmara dos Deputados um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL). O manifestante ofendeu Glauber e a mãe dele, que estava doente e morreu poucos dias depois. Glauber é crítico do então presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL) e denunciava o orçamento secreto.
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Eleições 2026: combate entre esquerda x direita
Sobre as eleições em 2026, Glauber Braga declarou que há movimento majoritário interno do Psol de apoiar a reeleição do presidente Lula (PT). Em relação ao embate nas urnas para evitar o crescimento da extrema direita, ele acredita ser necessária uma posição política de maior mobilização e medidas econômicas que impactem diretamente a população.
"Reforçar uma posição política quente. Tem de tensionar, mobilizar, tá junto das pessoas. Combinado a isso tem que ter medidas econômicas que não flertem com a dinâmica da austeridade. Garantir comida na mesa do povo, ampliar os investimentos em saúde. Essas duas combinações é o que pode dar a chave pra que você enterre a possibilidade de retorno da extrema direita à presidência da República", disse.
Ao citar exemplos do crescimento da extrema direita em outros países como França e Argentina, Glauber explicou que é preciso uma esquerda com o que chamou de "radicalidade política" que faça um enfrentamento direto com essa ala.
"O que tem ainda faltando como consolidação no mundo. Se você tem uma consolidação da extrema direita, onde é que está a esquerda com radicalidade política que faz um enfrentamento mais frontal a essa extrema direita? Esse é o papel do Psol. Fazer esse enfrentamento à extrema direita fascista, mas não deixar de mostrar que essa extrema direita caminha com uma agenda neoliberal privatizante. Isso é o que dar força e movimenta um partido com as nossas caraterísticas", argumentou.
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Neste cenário de embate eleitoral, Glauber defendeu que a esquerda não baixe suas bandeiras, mas as mantenha juntamente com aquelas que dialoguem diretamente e que causem impactos de imediato na maioria da população, a exemplo do fim da escala de trabalho 6x1, proposta pela deputa federal Érika Hilton (Psol-SP).
"Se a gente defende essa pauta, a maioria do povo vai tá com a gente. E essa extrema-direita não vai defender e vão ter que se explicar. Quando foi a última vez que o Nikolas Ferreira veio se explicar a publicamente sobre alguma pauta? Foi justamente sobre a escala 6x1. Nas reivindicações da classe trabalhadora eu acho que a esquerda tem que apresentá-las, manter o conjunto das bandeiras levantadas, mas tem que apresentar essas pautas de maneira direta e incisiva. A escala 6x1 é um desses exemplos", completou.