Cirurgia bariátrica tem normas atualizadas no Brasil; entenda tudo sobre o procedimento
O Conselho Federal de Medicina publicou novas normas para a realização de cirurgias bariátricas. Entenda as regras e mais sobre o procedimento
O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou as novas normas para a cirurgia bariátrica no último dia 20 de maio. Entre as mudanças estão a ampliação das recomendações, que permitirão o procedimento a pessoas com IMC menor e a adolescentes.
Segundo os dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), entre 2020 e 2024, o Brasil realizou mais de 291 mil cirurgias do tipo.
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Desse número, 260.070 foram realizadas pelos planos de saúde e 31.351 foram pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Saiba mais sobre o que é a cirurgia bariátrica, como é o processo de recuperação, novas regras e mais.
Cirurgia bariátrica: como é o procedimento?
A bariátrica é um procedimento cirúrgico no aparelho digestivo, geralmente no estômago, utilizado para o tratamento de obesidade. Para realizá-lo o paciente deve ser acompanhado de uma equipe multidisciplinar já que a doença envolve questões de saúde física e mental.
O presidente da Sociedade de Cirurgia Bariátrica e Metabólica no Ceará, Paulo Campelo, explica que a intervenção promove alterações tanto na ingestão alimentar da pessoa quanto no metabolismo, com a produção de hormônios intestinais que darão maior saciedade.
Novas recomendações para cirurgia bariátrica: veja as mudanças
Atualmente, os casos em que a cirurgia é indicada baseiam-se no Índice de Massa Corporal (IMC), além de considerações sobre a saúde do paciente, como idade, grau de obesidade e presença de doenças crônicas.
A resolução n.º 2.429/25, divulgada esta semana, modifica a resolução n.º 2.131, datada de 2015. Pela resolução anterior, a bariátrica é indicada para:
- Indivíduos obesos com IMC acima de 40;
- Pacientes com IMC acima de 35, que tenham doenças associadas, como diabetes, colesterol alto, hipertensão, hérnia de disco e esteatose hepática (gordura no fígado).
Já a nova resolução permite a operação para:
- Pacientes com IMC entre 30 e 35 e que tenham doenças cardiovasculares graves, diabetes tipo 2, apneia do sono grave, doença renal crônica precoce, doença gordurosa hepática e refluxo gastroesofágico.
Além disso, a idade mínima para a cirurgia ou de 16 para 14 anos, em pacientes com caso grave de obesidade, que acarretam complicações de saúde. Os adolescentes entre 16 e 18 anos terão que seguir os critérios exigidos para os adultos.
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Novos métodos também foram autorizados pelo CFM; veja quais
A cirurgia bariátrica é feita há 50 anos e ou por vários processos para encontrar as formas mais seguras e que tragam os melhores resultados para os pacientes. Por isso, o Conselho Federal de Medicina reconheceu cirurgias alternativas, que já são realizadas em outros países na América do Norte, na Europa e na Ásia.
As novas técnicas reconhecidas pelo CFM foram:
- duodenal switch com gastrectomia vertical;
- by gástrico com anastomose única;
- gastrectomia vertical com anastomose duodeno-ileal; e
- gastrectomia vertical com bipartição do trânsito intestinal.
Para fazer a bariátrica é necessário acompanhamento multidisciplinar
Para optar pelo procedimento não basta a autorização do médico e do paciente. É necessária uma avaliação completa feita por uma equipe multidisciplinar, composta por cirurgiões, nutricionistas, psicólogos, endocrinologistas e até pneumologistas e cardiologistas - caso a pessoa tenha alguma comorbidade.
“A obesidade é uma doença de múltiplas causas. A gente precisa unir todos esses tipos de conhecimentos em cada área para que a gente possa oferecer o melhor tratamento ao paciente”, explica Paulo Campelo.
A ideia é confirmada pela nutricionista Kelly Christine, que reforça a importância do acompanhamento antes, durante e depois da cirurgia.
No pré-operatório, o nutricionista é responsável por uma avaliação nutricional completa e orienta a reeducação alimentar, devendo começar com quatro a seis meses de antecedência. “Esta reeducação é crucial porque muitos pacientes acham que podem comer de tudo antes do procedimento. Não é assim. A gente precisa preparar esse paciente para poder comer melhor… Se não, ele não vai ter sucesso no tratamento”, detalha Kelly.
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A parte emocional também é afetada pela cirurgia; por isso o acompanhamento é feito junto com um psicólogo. Eles trabalham para evitar que o paciente substitua a relação que tem com o alimento por outras compulsões, como compras excessivas, drogas (lícitas ou ilícitas), álcool ou tabagismo.
No pós-operatório, o nutricionista deve estar presente para dar e na recuperação, orientar sobre a mudança na consistência da dieta e, principalmente, atuar na prevenção das deficiências nutricionais.
A especialista reforça a importância da autorresponsabilidade do paciente, destacando que ele é parte essencial do tratamento e que a equipe está ali para incentivá-lo e garantir o sucesso.
Eveline Silva, 41, elogia a equipe que a acompanhou durante o processo: “A equipe que participei foi muito boa. Muito ativos, muito participativos”, descreve. A operadora de sistemas recorreu à cirurgia com o marido, devido ao sobrepeso e da frustração diante da falta de resultados durante o acompanhamento com nutricionista.
O professor universitário Alex Martins compartilha da mesma percepção. Ele fez a cirurgia bariátrica em 2014, após um ano de acompanhamento. “A gente sabe que é um novo estilo de vida, que tem mudança após o pós-operatório, aquela coisa de se adaptar. E eu fui seguindo todos os os que já tinha ado por essa equipe, que me orientava”, relata.
Como é o processo de recuperação e quanto tempo dura?
O pós-operatório da cirurgia bariátrica é semelhante, independente da técnica usada. Paulo Campelo afirma que é um procedimento com baixa taxa de complicações.
Entre 24 e 48 horas depois do procedimento, o paciente já pode receber alta e iniciar a alimentação, que nos primeiros 15 dias deve ser exclusivamente líquida. Depois, evolui para uma dieta pastosa pelo mesmo período de tempo.
Por fim, em até um mês, ele estará com a alimentação branda, com alimentos do cotidiano, com as mudanças implementadas na reeducação alimentar. Por conta das intervenções físicas da cirurgia, a pessoa terá que consumir uma quantidade de alimentos menor, o que auxilia na perda de peso.
Mas o processo vai além e, para manter este resultado e estar saudável, é necessário acompanhamento profissional, dieta equilibrada, rotina de exercícios físicos e apoio emocional.
“É necessário reeducação alimentar para o resto da vida”, diz paciente
A cirurgia bariátrica ajuda na perda de peso, mas não é a única forma. Junto a ela, é necessário mudar hábitos antigos, atitude ressaltada pelos especialistas e por quem já ou pelo procedimento.
Para o cirurgião Paulo Campelo, a reeducação alimentar e a mudança de estilo de vida são as bases para o tratamento da obesidade:
“Se a gente imaginar uma pirâmide, a base do tratamento da obesidade seria sempre mudança da dieta e de estilo de vida e prática de exercícios. O segundo patamar dessa pirâmide seriam os medicamentos e o terceiro patamar da pirâmide seria a cirurgia”.
Mas as mudanças não vêm com uma data limite em que o indivíduo estará livre para deixá-las de lado. O compromisso com a alimentação e exercícios físicos é “pelo resto da vida”, já que a perda de peso “envolve paciência”, como afirma a nutricionista Kelly Christine.
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“O comportamento alimentar é primordial. Nesse comportamento também está a atividade física, que é muito importante para que esse paciente venha a mudar os hábitos”, destaca.
Para Eveline e Alex, que fizeram o procedimento, o pós-cirurgia trouxe desafios e inúmeras mudanças.
“Hoje, tenho um estilo de vida diferente, com perda de peso, atividade física, acompanhamento nutricional e reposição de vitaminas”, relata a operadora de sistemas, que dedica os bons resultados “à preparação que tive antes (da cirurgia)”.
“Eu me movimento de todas as formas: faço musculação, hitbox, aula de dança, caminhada no fim de semana”, completa.
Alex revela que teve seus momentos de desmotivação, quando a perda de peso ou a ser mais lenta e ele não conseguia ver os resultados que já tinha alcançado.
“Cheguei a não me ver como magro. Estava acostumado a ser gordo. Ao me olhar no espelho, não me via magro. Comecei a ver flacidez nas fotos. Não gostava do resultado e não me via atingindo a meta (de peso)”, narra. Hoje, quase 11 anos depois do procedimento, ele reconhece que está satisfeito. “Estou na faixa esperada de 90 a 95 quilos. É questão de conscientização e terapia para manter (os resultados)”.